quarta-feira, 30 de maio de 2012

[SGM] "Não culpem Hitler sozinho pela Segunda Guerra"

Eric Magnolis, 07/09/2009


A História é a propaganda dos vitoriosos. Realmente, Adolf Hitler da Alemanha tem recebido toda a culpa pelo início da Segunda Guerra na Europa, o conflito mais mortal da história no qual 50 milhões morreram.

É interessante que o septuagésimo aniversário da Segunda Guerra tenha aberto velhas feridas e iniciado uma batalha terrível de palavras entre a Rússia e seus vizinhos não muito queridos, Ucrânia, Polônia e os Estados Bálticos. Os últimos dois acusam Moscou de tê-los traído em 1939, ao tornar-se aliada da Alemanha Nazista.

A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) recentemente acusou a URSS e a Alemanha "igualmente pela Segunda Guerra Mundial." (http://eurodialogue.org/OSCE-Resolution-Equating-Stalinism-With-Nazism-Enrages-Russi ). Após 70 anos, já era tempo.

"Uma mentira descarada," respondeu raivosamente o presidente da Rússia, Dimitry Medvedev. O custo da guerra da União Soviética foi 25 milhões de mortos. Os russos estão totalmente certos em acreditar que foram eles, não os EUA e o Império Britânico, que derrotaram a Alemanha de Hitler. Os russos lutaram com incrível heroismo, sofreram baixas e danos inimagináveis, e varreram a Alemanha Nazista. Os Aliados tiveram um importante, mas comparativamente menos importante, papel na Europa contra uma Alemanha já derrotada e arruinada.

Sublinhando a reabilitação de Stalin por Moscou, Medvedev diz que o ditador soviético salvou a Europa de Hitler e rejeita todas as tentativas de igualá-lo ao ditador alemão.

Mas os fatos nos mostram dados diferentes. Stalin foi um assassino em massa pior do Hitler num fator de três ou quatro. Stalin era também um estrategista, líder guerreiro e diplomata mais esperto que Hitler, que arrastou a Alemanha para uma guerra que ela possivelmente não ganharia e para a qual estava pouco preparada.

O primeiro-ministro Vladimir Putin admite que o Pacto Molotov-Ribbentrop de 1939 que dividiu a Polônia entre Alemanha e a União Soviética, entregando os Estados Bálticos e a Bessarábia da Romênia para os soviéticos, foi "imoral".

Mas Putin corretamente diz que o Pacto de Munique de 1938 assinado pela Inglaterra e França com Hitler, no qual retornava a região étnica dos Sudetos para o controle da Alemanha-Áustria foi igualmente imoral. Ele lembrou do papel decisivo da Polônia no retalhamento da Tchecoslováquia. Ele acusou os críticos da Europa oriental de "colaboradores do fascismo."

Interessantemente, sabemos que Hitler estava determinado a desfazer os efeitos perniciosos dos tratados de "paz" pós-Primeira Guerra Mundial, os quais cruelmente desmembraram o Reich alemão, e os Impérios Austro-Húngaro e Otomano. Ele estava decidido a restabelecer as fronteiras de 1914.

Mas é pouco compreendido que Stalin também estava envolvido numa retificação histórica e geográfica. Ele queria apagar os efeitos do Tratado de Brest-Litovsk de 1918, imposto à Rússia derrotada e em revolução pelas Potências Centrais lideradas pela Alemanha.

O tratado draconiano retirou um quarto da população e indústria da Rússia, e envolveu vastas extensões de territórios dominados pela Rússia: Polônia, Estados Bálticos, Belarus, Ucrânia, Criméia, Bessarábia e Finlândia. Como Hitler, Stalin estava determinado a reconquistar os territórios perdidos. Isto, ele largamente fez de 1920 a 1939. O pacto Molotov-Ribbentrop era o ato final na restauração do velho Império Tzarista.

Um livro fascinante, O Grande Culpado, de Victor Suvorov, pseudônimo de um desertor da inteligência militar soviética (GRU), faz novas revelações explosivas sobre o papel de Stalin em iniciar a Segunda Guerra Mundial. Meus velhos amigos na KGB desprezam a GRU. Mas foi a GRU que conseguiu agentes de nível 2-3 na Casa Branca de Roosevelt e configurou a política estrangeira de guerra da América.




O argumento de Suvorov é simples. Stalin inteligentemente jogou Hitler na guerra ao oferecer a partilha da Polônia. Este ato, Stalin sabia, faria com que Inglaterra e França declarassem guerra à Alemanha. Stalin esperava colher os pedaços que sobrassem do conflito.

Stalin também sabia que a Alemanha não era páreo para a União Soviética. Hitler tinha somente 3.332 tanques, a maioria dos quais eram veículos leves armados com metralhadoras ou canhões de 20mm. Ao contrário de nossas imagens de uma blitzkrieg motorizada, 75% do transporte alemão era feito por cavalos(!) (pense no valor e na quantidade de vagões que são necessários para alimentar 750.000 cavalos). A Wehrmacht não tinha uniformes de inverno. O Alto-Comando Alemão esperava ganhar a guerra contra a Rússia em somente três meses - antes que o inverno chegasse.

Mais imprtante, a Alemanha não tinha matérias-primas exceto o carvão. Suas raras reservas de petróleo vinham da Romênia e Rússia. A Alemanha tinha petróleo suficiente para uma campanha de dois meses contra a União Soviética. Ela não tinha lubrificantes de motor compatíveis para o clima rigoroso de inverno de dezenas de graus abaixo de zero da Rússia.

Ao escavar os aruivos da GRU, Suvorov garante que na primavera de 1941, Stalin estava decidido a lançar 170 divisões, 24.000 tanques e milhares de aviões numa blitzkrieg surpresa contra a Europa Ocidental, apoiado por montanhas de munições e mais exércitos reservas da Ásia e do Oriente distante. O primeiro alvo era Ploesti, Romênia, a única fonte de petróleo da Alemanha. A Alemanha era também a única fonte de petróleo da Itália. A perda de Ploesti teria nocauteado ambas as potências do Eixo.

O Exército da Rússia e a Força Aére foram colocadas em formações ofensivas vulneráveis na nova fronteira teuto-soviética. Stalin ordenou que todas as 1.000 casamatas defensivas da formidável Linha Stalin, que faziam a defesa da fronteira ocidental da URSS, fossem destruídas.

Mas Hitler atacou primeiro. Sabendo da ameaça soviética, Hitler secretamente armou seus exércitos e atacou em 22 de junho de 1941. A Operação Barbarossa pegou os russos de surpresa: aviões no solo, tanques nos carros de transporte, munições ainda fechadas. As forças terrestres soviéticas foram rapidamente envolvidas, cortadas e destruídas em números gigantescos. Tivessem eles estado posicionados em posições defensivas atrás da Linha Stalin, esta vitória não teria acontecido.

A propaganda soviética mais tarde tentou encobrir o plano de Stalin de ataque à Europa, dizendo que suas forças eram antiquadas e despreparadas e os generais incompetentes. Esta visão ainda prevalece hoje.

Não mais, diz Suvorov. Sua visão deixará os historiadores ortodoxos enfurecidos. Eu li atentamente a análise militar de Suvorov. Para mim, como um veterano analista militar, seus números parecem confirmar que Stalin estava prestes a atacar quando Hitler atacou-o preventivamente.

Em 1945, o Exército Vermelho tomou metade da Europa. Mas, pensa Suvorov, se Hitler não tivesse atacado primeiro em 1941, o exército de 30 milhões de Stalin, alimentado por uma produção industrial gigantesca, teria sobrepujado toda a Europa em 1941 numa blitz surpresa.

A conclusão não declarada de Suvorov: Hitler salvou a Europa Ocidental de Stalin. Ele diz, com menos confiança, que a ofensiva de Hitler contra a Rússia levou à inevitável dissolução da União Soviética em 1991 - e o término real da Segunda Guerra Mundial.

Na visão do autor, se a Polônia tivesse devolvido a cidade alemã de Danzig para a Alemanha, a guerra poderia ter sido evitada. O Império Britânico colapsou por causa de sua decisão de ir à guerra contra a Alemanha em 1939 pela Polônia, uma nação que não poderia defender-se.

Tudo isso é uma grande heresia. Precisamos afastar as nuvens prolongadas da propaganda de guerra e começar a compreender o que realmente aconteceu.

http://www.ericmargolis.com/political_commentaries/dont-blame-hitler-alone-for-world-war-ii.aspx

3 comentários:

hess500 disse...

Olá! Gostaria de saber sobre esta imagem dos guerreiros em armaduras que ilustra seu blog!
Grato!...... hess500@gmail.com

Sérgio disse...

Esse Suvorov não é doido não. É trêsloucado!...Um horror de desonestidade esse livro!..

Professor Leandro disse...

É bastante comum apresentar Munique como contraponto (ou causa) para o pacto de 1939.
Talvez os soviéticos, na ocasião, também tenham pensado assim, que o pacto teria sido uma forma de desviar Hitler para o leste, sacrificando nessa caso o soberania da Tchecoslováquia.
Isso nunca iremos saber porque é um juízo de valor.
O acordo de Munique sempre nos pareceu uma "concessão" para se evitar a guerra, com a expectativa que Hitler parasse por ali, enquanto o pacto Molotov-Ribbentrop não tinha nada de concessão. Era uma partilha, pura e simples.
Por isso é importante que apareçam mais informações sobre a posição soviética entre 1939 e 1941.