terça-feira, 18 de setembro de 2012

Fragmento de texto do século II fala em "mulher de Jesus"

Terra, 18 de setembro de 2012

Um papiro é a primeira evidência de que os cristãos já acreditaram que Jesus foi casado, segundo um estudo da Harvard Divinity School. A descoberta foi anunciada em um congresso no Institutum Patristicum Augustinianum (do Vaticano) em Roma.

"A tradição cristã afirma que Jesus não foi casado, apesar de não haver nenhuma evidência histórica confiável para suportar essa afirmação", diz Karen King, de Harvard. "Este novo texto não prova que Jesus foi casado, mas nos conta que a questão como um todo apenas veio de um vociferador debate sobre sexualidade e casamento. Os cristãos discordavam sobre se era melhor ou não casar, mas isso foi um século depois da morte de Jesus, depois eles apelaram para o estado conjugal de Jesus para suportar suas posições."

Roger Bagnall, diretor do Instituto de Estudo do Mundo Antigo, em Nova York, acredita que o fragmento seja autêntico, baseado em exames do papiro e da caligrafia. Outros especialistas também acreditam na autenticidade baseados em outros dados, como linguagem e gramática, segundo nota de Harvard desta terça-feira. O objeto ainda vai passar por mais testes, especialmente da composição química da tinta.

Um dos lados do fragmento tem oito linhas incompletas de texto, enquanto o outro está muito danificado e apenas três palavras e algumas letras podem ser vistas - inclusive com infravermelho e processamento da imagem em computador. Karen afirma que o pequeno texto fala sobre assuntos como família, disciplina e casamento dos antigos cristãos.

A pesquisadora e a colega AnneMarie Luijendijk, professora de religião em Princeton, acreditam que o fragmento faça parte de um evangelho desconhecido. Um artigo com resultados do estudo do objeto será publicado em janeiro de 2013 no jornal Harvard Theological Review.



O fragmento faz parte de uma coleção particular cujo dono procurou a pesquisadora para que ela traduzisse o texto. Ele deu a Karen uma carta dos anos 80 do professor Gerhard Fecht, da Universidade Livre de Berlim, na qual ele afirmava acreditar que era uma evidência de um possível casamento de Jesus.

A professora de Harvard disse não acreditar em um primeiro momento (em 2010) que fosse autêntico e disse ao dono que não tinha interesse na análise. Contudo, ele persistiu no contato e, em dezembro de 2011, ela o convidou a levar o objeto a Harvard. Em 2012, ela e Luijendijk levaram o papiro a Bagnall que analisou e disse ser possivelmente autêntico.

Pouco se sabe de sua origem, mas acredita-se ser do Egito, já que está escrito em copta - usado pelos cristãos egípcios durante o império romano. Como há texto dos dois lados, os pesquisadores acreditam que faça parte de um livro, ou códex.

Para motivos de referência, o evangelho do qual supostamente faria parte foi chamado de "Evangelho da Mulher de Jesus". A pesquisadora acredita que ele seja da segunda metade do século II, já que outros evangelhos descobertos recentemente são dessa época. A origem, como dos outros, certamente está atribuída a alguém próximo a Jesus, mas o verdadeiro autor deve ser desconhecido. Eles acreditam ainda que foi escrito originalmente em grego e depois traduzido.

No texto, os cristãos falam de si como uma família, com Deus como pai, seu filho Jesus e membros como irmãos e irmãs. Duas vezes no fragmento, Jesus fala de sua mãe e de sua mulher - sendo que uma das duas ele chama de Maria. Os discípulos discutem se Maria é digna, e Jesus diz que "ela pode ser minha discípula".

Segundo Karen, somente por volta do ano 200 é que foi afirmado, em texto registrado por Clemente de Alexandria, que Jesus não se casou. Na época havia uma discussão se os cristãos deveriam se casar ou viver no celibato. Segundo Clemente, cristãos da época afirmavam que o casamento fora instituído pelo demônio. A pesquisadora afirma que Tertuliano de Cartago, uma ou duas décadas depois, foi quem declarou que Jesus não havia se casado. Ele, contudo, não condenava o casamento - desde que ocorresse apenas uma vez, mesmo em caso de morte de um dos cônjuges.

No final, afirma Karen, a visão dominadora foi a de que o celibato é a mais alta forma de virtude sexual do cristianismo, enquanto permite o casamento, mas apenas para a reprodução. "A descoberta desse novo evangelho oferece uma ocasião para repensar o que achávamos saber ao questionar qual foi o papel que o status conjugal de Jesus teve historicamente nas controvérsias dos cristãos antigos sobre casamento, celibato e família. A tradição preservou apenas aquelas vozes que clamavam que Jesus nunca se casou. O 'Evangelho da Mulher de Jesus' agora mostra que alguns cristãos pensavam de outra forma."

http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI6163867-EI8147,00-Fragmento+de+texto+do+seculo+II+fala+em+mulher+de+Jesus.html


Especialistas estão céticos após texto sobre "mulher de Jesus"

Terra, 19 de setembro de 2012

O papiro revelado por uma professora americana e que menciona a existência de uma suposta mulher de Jesus causou polêmica. Contudo, a teoria de que Cristo teria sido casado foi vista com ceticismo tanto por especialistas do Vaticano quanto de fora.

A professora Karen King, da Escola de Teologia de Harvard, revelou a existência de um papiro cristão copta escrito entre os séculos 2 e 4 e que contém a frase "Jesus disse a ele, minha esposa...".
Durante o congresso sobre estudos coptas, a especialista falou da teoria que os antigos cristãos acreditavam que Jesus era casado. Ela enfatizou que o papiro em questão não prova que Jesus tenha sido casado de fato, mas levanta a questão desse suposto casamento, muito embora a tradição cristã faça questão de negar essa possibilidade.

"No princípio, os cristãos discordavam sobre se era ou não casado, mas somente depois de um século da morte de Jesus é que começaram a usar condição conjugal de Jesus para apoiar suas posições", acrescentou King.

Apesar de vários especialistas acreditarem na autenticidade do papiro, "a sentença final sobre o fragmento depende de novas análises por parte de colegas e da realização de mais testes, principalmente sobre a composição química da tinta", explicou ainda.

Procurado pela AFP, o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, afirmou que "não se sabe direito de onde vem esse pedaço de pergaminho". "Mas isso não muda em absoluto a posição da Igreja, que se baseia em uma longa tradição muito clara e unânime. Não muda em nada a visão sobre Cristo e os Evangelhos. Este acontecimento não tem influência alguma sobre a doutrina católica", enfatizou.
Por sua parte, o professor da Faculdade Protestante de Paris Jacques-Noel Peres destacou que se trata de um texto tardio: "Nunca li textos de épocas anteriores que testemunhassem a veracidade de um casamento de Jesus", afirmou. "Nos idiomas semíticos daquela época, mulher não significa necessariamente esposa".

Peres afirma que este termo pode ser oriundo da famosa frase em que Jesus se dirige a sua mãe no episódio conhecido com Bodas de Caná: "Que tenho eu contigo, mulher?". Para alguns historiadores, o pergaminho pode se originar de círculos gnósticos muito alternativos.

O diretor do jornal do Vaticano L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian, que também é historiador especializado em Igreja antiga, duvida da autenticidade do documento. "Há um comércio de documentos falsos no Oriente Médio", comentou, criticando o fato de que nos Estados Unidos houve "uma tentativa de fazer barulho em torno deste assunto".

Segundo ele, a letra de quem escreveu o papiro é "muito pessoal", quando os documentos deste tipo eram escritos com uma letra codificada "muito rígida", que se parecia com um texto impresso. "Na tradição da Igreja, não se conhece nenhuma menção a uma esposa de Jesus. Segundo todos os índices históricos, Jesus era solteiro. É dito claramente que Pedro era casado. Por que se teria ocultado no caso de Jesus?", questiona.

Para ele, pode-se tratar de um fragmento de evangelho apócrifo de inspiração gnóstica.

Durante os primeiros séculos do Cristianismo, houve inúmeros evangelhos que posteriormente foram descartados da Bíblia pela Igreja de acordo com seus interesses. Esses evangelhos teriam sido escritos por pessoas que realmente conheceram Jesus e apresentavam um quadro mais completo de sua vida, principalmente de sua infância.

http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI6166226-EI8147,00-Especialistas+estao+ceticos+apos+texto+sobre+mulher+de+Jesus.html

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