quinta-feira, 20 de setembro de 2012

[SGM] Memorandos mostram que EUA encobriram crime Soviético

Randy Herschaft e Vanessa Gera | Associated Press – 10/09/2012


Varsóvia, Polônia (AP) – Prisioneiros de guerra americanos enviaram mensagens secretas codificadas para Washington com relatos de uma atrocidade soviética: em 1943, eles viram colunas de corpos em estado avançado de decomposição na floresta de Katyn, na fronteira ocidental da Rússia, prova de que os assassinos não poderiam ter sido os nazistas, já que eles haviam ocupado a área recentemente.

O testemunho do infame massacre de oficiais poloneses poderia ter diminuído o destino trágico que caiu sobre a Polônia sob o domínio soviético, acreditam alguns estudiosos. Ao invés disso, ele misteriosamente desapareceu no coração do poder americano. A suspeita é que o presidente Franklin Delano Roosevelt não queria enfurecer Josef Stalin, um aliado que os americanos contavam para derrotar a Alemanha e o Japão durante a Segunda Guerra Mundial.


Documentos liberados na segunda-feira e vistos antecipadamente pela Associated Press deram peso à crença de que altos níveis do governo americano ajudaram a acobertar a culpa soviética no assassinato de cerca de 22.000 oficiais poloneses e outros prisioneiros na floresta de Katyn e outros locais em 1940.


A evidência está entre as 1.000 páginas de novos documentos desclassificados que os Arquivos Nacionais dos Estados Unidos liberados e disponibilizados na internet. O deputado republicano de Ohio, Marcy Kaptur, que ajudou a liderar um movimento recente para liberação dos documentos, chamou o sucesso do esforço de segunda-feira de uma “ocasião ímpar” na tentativa de “fazer história completa”.


Historiadores que viram o material alguns dias antes da liberação oficial descreveram-no como importante e compartilharam alguns detalhes com a AP. A revelação mais dramática até aqui é a evidência de códigos secretos enviados por dois prisioneiros de guerra americanos – algo que os historiadores eram ignorantes e que acrescenta evidência de que a administração Roosevelt sabia da atrocidade soviética relativamente cedo.


Os documentos desclassificados também mostram que os Estados Unidos mantendo essa informação em segredo não poderiam conclusivamente determinar a culpa até a admissão russa em 1990 – uma afirmação que parece improvável dado o enorme corpo de evidência da culpa soviética que já havia sido descoberta décadas antes. Os historiadores dizem que o novo material ajuda a esclarecer o que os EUA sabiam e a época.


A polícia secreta soviética matou os 22.000 poloneses com tiros na nuca. Seu objetivo era eliminar uma elite militar e intelectual que poderia se opor ao controle soviético. Os homens estavam entre os mais influentes da Polônia – oficiais e reservistas que em suas vidas civis trabalhavam como médicos, advogados, professores ou outros profissionais. Sua perda provou ser uma ferida profunda na nação polonesa.


Nos primeiros anos seguintes à guerra, o ultraje de alguns funcionários americanos diante do encobrimento inspirou a criação de um comitê especial no Congresso americano para investigar Katyn.


Em um relatório final liberado em 1952, o comitê declarou que não havia dúvidas da culpa soviética e denominou o massacre como “um dos mais bárbaros crimes internacionais na história mundial.” Ele afirmou que a administração Roosevelt suprimiu o crime do conhecimento público, mas disse que isto estava além da necessidade militar. Ele também recomendou que o governo conduzisse acusações contra os soviéticos em um tribunal internacional – algo nunca colocado em prática.


Apesar das conclusões firmes, a Casa Branca manteve seu silêncio sobre Katyn durante décadas, mostrando uma má vontade em focar num assunto que teria sido acrescentado às tensões políticas com os soviéticos durante a Guerra Fria.


Foi em maio de 1943 na floresta de Katyn, uma parte da Rússia que os alemães tomaram dos soviéticos em 1941. Um grupo de prisioneiros americanos e britânicos foram levados à força por seus captores alemães para testemunhar uma cena horrível em uma clareira cercada por pinheiros: covas coletivas abarrotadas com milhares de corpos parcialmente mumificados em uniformes elegantes de oficiais poloneses.


Os americanos – capitão Donald B. Stewart e o Tenente-Coronel John H. Van Vliet Jr. – odiavam os nazistas e não queriam acreditar nos alemães. Eles tinham visto a crueldade alemã de perto, e, além disso, os soviéticos eram seus aliados. Os alemães esperavam usar os prisioneiros para propaganda e romper a aliança entre a União Soviética e seus aliados ocidentais.


Mas, ao retornar aos seus campos, os americanos convenceram-se de que eles presenciaram prova contundente da culpa soviética. O estado avançado de decomposição dos corpos lhes mostrou que os assassinatos aconteceram na etapa inicial da guerra, quando os soviéticos ainda controlavam a área. Eles também viram cartas, diários, placas de identificação, recortes de jornal e outros objetos – nenhum datado mais tarde do que a primavera de 1940 – retirados das covas. A evidência que mais os convenceu era o bom estado das botas e das roupas: isto lhes disse que os homens não viveram muito tempo após terem sido capturados.


Stewart testemunhou diante do comitê parlamentar de 1951 sobre o que ele viu, e Van Vliet escreveu relatórios sobre Katyn em 1945 e 1950, o primeiro dos quais desapareceu misteriosamente. Mas os novos documentos desclassificados mostram que ambos enviaram mensagens codificadas enquanto ainda estavam em cativeiro para a inteligência do Exército com sua própria opinião sobre a culpa soviética. É uma revelação importante porque mostra que a administração Roosevelt estava conseguindo informação desde o começo de fontes confiáveis americanas da culpa soviética – mesmo assim as ignorou para manter a aliança com Stalin. 


Um documento mostra que o chefe da Inteligência do Exército, o General Clayton Bissell, confirmando que alguns meses após a visita de 1943 a Katyn por oficiais americanos, um pedido codificado pelo MIS-X, uma unidade de inteligência militar, foi enviado para Van Vliet pedindo-lhe “para confirmar sua opinião sobre Katyn.” A nota de Bissell disse que “é também entendido que o Coronel Van Vliet e o Capitão Stewart responderam.”


O MIS-X era responsável na ajuda para a fuga dos prisioneiros de guerra atrás das linhas alemãs; ele também usava prisioneiros para coletar inteligência.


Uma declaração de Stewart datada de 1950 confirma que ele recebeu e enviou mensagens codificadas para Washington durante a Guerra, incluindo uma sobre Katyn: “O conteúdo do meu relatório foi aprx (aproximadamente): as afirmações alemãs sobre Katyn substancialmente corretas na opinião de Van Vliet e minha própria.”


Os novos documentos tornados públicos também mostram que Stewart recebeu ordens em 1950 – logo antes do comitê congressional começar seu trabalho – de nunca falar a respeito da mensagem secreta de Katyn.

 

Krystyna Piorkowska, autora do livro recentemente publicado “Testemunhas Anglo-Saxãs de Katyn: Pesquisa Recente,” descobriu os documentos relacionados às mensagens codificadas mais de uma semana atrás. Ela foi um dos muitos pesquisadores que viram o material muito antes da liberação pública.


Ela já tinha determinado em sua pesquisa que Van Vliet e Stewart eram “usuários codificados” que coletavam mensagens sobre todos os assuntos. Mas esta é a primeira descoberta deles falando sobre Katyn, ela disse.


Um outro especialista em Katyn ciente dos documentos, Allen Paul, autor de “Katyn: O Massacre de Stalin e o Triunfo da Verdade,” disse à AP que a descoberta é “potencialmente explosiva.” Ele disse que o material não aparece no registro das audiências parlamentares em 1951-52, e parece ter sido suprimido.


Ele argumenta que a cobertura dos EUA atrasou uma compreensão completa nos Estados Unidos da verdadeira natureza do Stalinismo – uma compreensão que veio somente depois, após os soviéticos explodirem uma bomba atômica em 1949 e após a Polônia e o resto da Europa Oriental estarem sob a Cortina de Ferro.

 

“Os poloneses sabiam muito antes de a guerra terminar quais eram as reais intenções de Stalin,” disse Paul. “A recusa do Ocidente em escutá-los sobre Katyn foi uma catástrofe que tornou seu destino pior.”


O registro histórico apresenta outra evidência que Roosevelt sabia em 1943 da culpa soviética. Uma das mensagens mais importantes que caíram na escrivaninha de FDR foi um relatório extenso e detalhado que o Primeiro-Ministro britânico Winston Churchill o enviou. Escrito pelo embaixador britânico para o governo-em-exílio polonês em Londres, Owen O´Malley, ele aponta a culpa soviética em Katyn.


“Temos agora disponível uma porção de evidência negativa,” escreveu O´Malley, “de que há sérias dúvidas sobre as afirmações russas da responsabilidade pelo massacre.”


Não foi somente após o fim da hegemonia soviética sobre a Europa Oriental que o líder reformista Mikhail Gorbachev admitiu publicamente a culpa soviética em Katyn, um passo-chave na reconciliação russo-polonesa.


O silêncio do governo americano tem sido uma fonte de profunda frustração para muitos americanos de origem polonesa. Um deles é Franciszek Herzog, 81 anos, um homem de Connecticut cujo pai e tio morreram no massacre. Após a admissão de Gorbachev em 1990, ele esperava por maior franqueza dos EUA r fez três tentativas de obter uma desculpa pública do então presidente George H.W. Bush.


“Isto não ressuscitará os homens,” ele escreveu a Bush. “Mas dará satisfação moral às viúvas e órfãos das vítimas.”


Uma resposta que ele obteve em 1992 do Departamento de Estado não o satisfez. Sua correspondência com o governo está também entre os documentos liberados recentemente e foi obtida mais cedo pela AP da Biblioteca presidencial George Bush.


A carta, datada de 12 de agosto de 1992, e assinada por Thomas Gerth, então vice-diretor do Escritório de Assuntos Europeus Orientais, mostra o governo admitindo que não possuía evidência irrefutável até a admissão de Gorbachev:


“O governo americano nunca aceitou a afirmação soviética de que não era responsável pelo massacre. Entretanto, na época das audiências congressionais em 1951-1952, os EUA não possuíam os fatos que pudessem claramente refutar as alegações soviéticas que estes crimes foram cometidos pelo Terceiro Reich. Estes fatos, como o senhor sabe, não foram revelados até 1990, quando os russos oficialmente se desculparam à Polônia.”


Herzog expressou frustração na resposta.


“Há uma enorme diferença entre não saber e não querer saber,” Herzog disse. “Acredito que o governo americano não quis saber porque era inconveniente para ele.” 


Página dos Arquivos Nacionais sobre o tema:


http://www.archives.gov/research/foreign-policy/katyn-massacre/


Fonte:




Novos Documentos mostram: Roosevelt conspirou com Stalin
 
Santiago Alvarez, 20/09/2012


Por que os EUA foram coniventes com a União Soviética em acobertar o massacre? Durante a guerra, tudo estava relacionado com a necessidade de manter uma frente unida contra a Alemanha e o Japão. Mas depois, durante a Guerra Fria, por que os EUA ainda acompanhavam o "Império do Mal"?

Bem, a resposta não é fácil. A Rússia era um regime totalitário desde os anos 1920. Portanto, na época em que o partido nacional socialista de Hitler foi estabelecido na Alemanha, os soviéticos já haviam matado centenas de milhares. Eles mataram milhões quando Hitler chegou ao poder em 1933.

Como a administração Roosevelt reagiu a isto quando ela chegou ao poder em 1933? Eles restabeleceram relações diplomáticas com a Rússia Soviética e subseqüentemente mantiveram uma relação muito cordial, aprobativa com o regime de Stalin. Mesmo assim, a relação com a Alemanha deteriorou rapidamente naqueles anos devido à hostilidade amarga de Roosevelt em relação ao regime de Hitler.

Quando a guerra eclodiu entre a Polônia de um lado e a Alemanha e União Soviética do outro (em setembro de 1939), os soviéticos tinham matado dezenas de milhões, e a administração americana conhecia esta catástrofe humana. Na época, cerca de mil indivíduos haviam sido mortos pelo regime de Hitler (durante o chamado Putsch Röhm em 1934 e o pogrom antijudeu de novembro de 1938). Adivinhem qual relação diplomática deteriorou após setembro de 1939? Somente aquela entre EUA e Alemanha, e não aquela entre EUA e Rússia Soviética. 

Então, por que a administração Roosevelt se uniu ao "Império do Mal", com o país mais criminoso do mundo? E por que todas as administrações americanas subseqüentes até hoje tentaram encobrir aspectos deste fato?

O poder corrompe. E gente corrupta tomando más decisões com repercussões catastróficas sempre tentam encontrar caminhos para justificar suas ações e esconder seus enganos. Os EUA dependem do mito da Segunda Guerra ter sido uma luta entre "bem" e "mal", onde os EUA levaram liberdade e democracia para o mundo - exceto para Katyn e para os zilhões de outros lugares de extermínio em massa, escravidão e opressão comunista (e Aliado). portanto, a auto-percepção dos EUA de si próprios é baseada em uma mentira profunda. É a mesma mentira que leva os EUA para a guerra uma após a outra: Somos os bonzinhos, e todos que se opõe a nós merecem ser bombardeados até o inferno.

A notícia da cobertura de Roosevelt do crime soviético tem ainda outra repercussão: aparentemente, os EUA possuíam uma rede de operações de estações de transmissão de rádio na Europa ocupada pelos alemães que podia ser usada pelos americanos. Espiões e soldados mantidos em cativeiro alemão enviavam mensagens secretas. Será interessante encontrar transmissões de rádio que informavam sobre as atrocidades ALEMÃS, por exemplo aquelas relacionadas ao Holocausto. Tanto quanto este autor sabe, nenhuma mensagem de rádio foi liberada até agora. É difícil conceber como a administração americana não teria sido informada sobre o "crime do século" enquanto ele ainda estava ocorrendo. Talvez Roosevelt tenha acobertado este crime também porque Hitler era seu aliado secreto...


Nenhum comentário: