quarta-feira, 6 de março de 2013

Os Nazistas no Tibete: A Cruzada de Himmler

Em 1935, o Reichsführer SS Heinrich Himmler fundou uma organização chamada Sociedade da Herança Ancestral (Ahnenerbe) no sentido de descobrir o passado escondido de uma raça imaginária ariana que ele e algumas lideranças nazistas acreditavam ser a mais nobre e a maior força vital na história humana. O fato de nunca ter existido tal raça – na verdade, uma categoria filológica (grupo de línguas indo-germânicas) que foi transformada em “povo” – não era impedimento para alguém que acreditava que os Arianos foram colocados no mundo após trovões divinos romperem o gelo primordial no qual eles estavam presos.

A alegação de que o Sânscrito contém a maioria das línguas modernas chamou a atenção das mentes do século XIX em relação à área geral do norte da Índia e Tibete como o lar ancestral dos míticos arianos. Assim, uma das missões científicas que Himmler apoiou foi uma expedição multitarefas ao Tibete sob a liderança do ornitólogo Ernst Schäfer. Schäfer então recrutou um antropólogo, Bruno Beger, para medir narizes e crânios e produzir formas em gesso dos rostos; um geógrafo especializado em geomagnetismo terrestre, um botânico que também transportava uma câmera de mão e um assistente.

Ernst Schäfer, nascido em 1910, interrompeu seus estudos universitários em zoologia e geologia duas vezes. Em 1930, Brooke Dolan, um jovem milionário americano, chegou à Alemanha para recrutar cientistas para uma expedição zoológica ao Tibete que ele queria realizar. Apesar de ter somente 20 anos na época, Schäfer participou da primeira expedição Dolan para a China Ocidental e o Tibete oriental, antes de retornar à Alemanha em 1932 para concluir seus estudos. Em 1934, Schäfer novamente interrompeu seus estudos para liderar a segunda expedição de Dolan, no Tibete oriental e na China, patrocinada pela Academia de Ciências Naturais na Filadélfia; esta viagem foi concluída em 1936. A Academia reconheceu o grande sucesso científico de ambas as expedições mais de 50 anos depois em seu obituário de 1992 de Schäfer, o qual menciona que este e Dolan “coletaram dados científicos e espécimes dos mamíferos e aves da região que nunca foram igualados em tamanho e importância. Em reconhecimento às suas contribuições científicas, o Dr. Schäfer foi eleito para membro vitalício da Academia (já) em 1932.” Após seu retorno à Alemanha, ele concluiu seus estudos em Berlim e em 1937, sob a orientação de Erwin Stresemann, completou seu doutorado com uma tese, de escopo incompreendido na época, sobre a vida das aves no Tibete.

Esta era a primeira expedição científica alemã a receber um convite especial para Lhasa do governo Tibetano, e seus membros seriam permitidos permanecer na capital Tibetana por dois meses inteiros. Com a política restrita do governo Tibetano nos anos 1930 de recusar a entrada de estrangeiros, o convite por si só era uma sensação menor, gerando tensões adiante nas carregadas e complexas relações anglo-germânicas da época.

O Reichsführer SS Himmler tentava tirar proveito da reputação de Ernst Schäfer para a propaganda nazista e perguntou-lhe sobre seus planos futuros. Schäfer desejava que sua expedição estivesse sob o patrocínio do departamento cultural de assuntos estrangeiros da Fundação de Pesquisa Alemã (DFG, Deutsche Forschungsgemeinschaft) como indicado por seus pedidos. Himmler era fascinado por misticismo asiático e, portanto, desejava enviar tal expedição sob os auspícios da Ahnenerbe e desejava que Schäfer realizasse pesquisa baseada na teoria pseudocientífica de Hans Hörbiger da “Cosmogonia Glacial”. Schäfer tinha objetivos científicos e, assim, ele recusou-se a incluir Edmund Kiss, um adepto desta teoria, em sua equipe, e exigiu 12 condições para trabalhar com liberdade. Wolfram Sievers, da Ahnenerbe, expressou críticas em relação aos objetivos da expedição, de modo que a organização não iria dar apoio a ela. Himmler, por outro lado, aceitou que a expedição fosse formada desde que todos os seus membros se afiliassem à SS. Para evitar mais problemas, Schäfer entrou para essa organização.

Apesar de Himmler eventualmente aceitar os objetivos de Schäfer, um memorando de setembro de 1937 torna claro que a Ahnenerbe continuaria a exercer pressão na questão do recrutamento da expedição, exigindo que um geógrafo, um antropologista, um geólogo, um botânico, representante da Teoria da Cosmogonia Glacial, e um arqueólogo fossem incluídos. Entretanto, o nome oficial seria mudado de Ahnenerbe para Expedição Alemã-Tibetana Ernst Schäfer, sob o patrocínio do Reichsführer SS Himmler e em conexão com a Ahnenerbe.

Em dezembro de 1937, Schäfer submeteu um plano detalhado e definitivo à DFG, no qual ele ainda defendia que o destino da expedição seria o Tibete Oriental, com acesso a partir da China. Isto também incluía um programa antropológico realizado pelo antropólogo Bruno Berger, cujo programa era baseado em torno da questão se os indo-europeus poderiam ser originários da Ásia Central, uma ideia que era debatida há longo tempo além dos círculos nacional-socialistas. De fato, discussão internacional e interdisciplinar sobre este assunto continua até hoje.

O escritor britânico Christopher Hale afirma que ninguém pode inferir que Schäfer era independente da SS e foi capaz de fazer “ciência pura” simplesmente a partir de um papel timbrado que ele conseguiu para a expedição: para todos os efeitos e objetivos, a expedição permaneceu sob o patrocínio de Himmler e Schäfer não tinha nenhum interesse em perder o apoio do Reichsführer.
 
 

 De acordo com Hale, como Schäfer exigia mais de 60.000 Reichsmark para sua expedição e os cofres da SS estavam secos na época, ele foi obrigado a levantar fundos sozinho. De acordo com o pesquisador Irrun Engelhardt, a expedição não foi financiada pela Ahnenerbe. Schäfer levantou fundos onde 80% vieram do Conselho de Propaganda e Relações Públicas da Indústria, assim como de grandes empresas alemãs, da DFG e do milionário Dolan. O custo de equipagem da expedição foi RM 65.000 e a própria expedição custou outros RM 65.000, exceto o voo de volta, que foi financiado pela SS.

Em outras palavras, nem Himmler nem a Ahnenerbe financiaram diretamente a expedição, apesar de Schäfer continuar a receber apoio político de ambos. Ele estava bem ciente de sua dependência em relação a Himmler e foi forçado a aceitar vários compromissos no sentido de manter mais tarde a cooperação dos britânicos para obter passaportes e, especialmente, em procurar moeda estrangeira, o maior problema que enfrentou na época. Schäfer teve mesmo que se comprometer com o nome e o papel timbrado da expedição. Após sua chegada à Índia, este timbre causou consideráveis dificuldades a Schäfer com as autoridades britânicas, já que nos documentos poderia ficar claro que a missão era da SS, um órgão político e militar da Alemanha e não uma expedição puramente científica.

Schäfer recrutou jovens de boa forma física que estariam adaptados a uma viagem cansativa. Aos 24 anos, Karl Weinert (um assistente de Wilhelm Filchner, um famoso explorador) era o geólogo da equipe. Também com 24 anos, Edmund Geer foi selecionado como líder técnico para organizar a expedição. Um membro relativamente velho, de 38 anos, era Ernst Krause (não confundi-lo com o biólogo alemão homônimo) era o cineasta e entomologista (especialista em insetos). Bruno Berger era um especialista racial de 26 anos e estudante de Hans F. K. Günther, sendo também o antropólogo da equipe. O grupo de cinco pesquisadores pretendia entrar em contato com o Regente do Tibete e visitar as cidades sagradas Lhasa e Shigatse. Mesmo com as dificuldades da guerra, o grupo teve sucesso em estabelecer contato com as autoridades e povo tibetanos.

Os alemães coletaram tudo o que encontraram: milhares de artefatos, um grande número de plantas e animais, incluindo espécimes vivos. Eles enviaram os seres vivos, incluindo cães, felinos, lobos, raposas e peles de animais para a Alemanha. Os membros da expedição colheram uma grande quantidade de plantas, em particular centenas de variedades de cevada, trigo e aveia. As sementes foram mais tarde armazenadas no Instituto de Genética Vegetal da SS em Lannach, próximo a Graz, Áustria, um centro de pesquisas comandado pelo botânico membro da SS Heinz Brücker. Este esperava usar tanto a coleção do Tibete quanto a do Instituto Vaviley nos territórios orientais para selecionar plantas capazes de suportar o clima da Europa oriental – considerado na época parte do Lebensraum nazista.

Wienert acumulou quatro conjuntos de dados geomagnéticos. Krause estudou as vespas tibetanas. Schäfer observou os rituais tibetanos, inclusive as piras funerárias (onde conseguiu alguns crânios humanos). Eles tiraram fotos e filmaram a cultura local, notavelmente as espetaculares celebrações de Ano Novo, quando milhares de peregrinos chegavam a Lhasa. Bruno Berger registrou as medidas de 376 pessoas e fez matrizes de cabeças, faces, mãos e orelhas de 17 delas, assim como tirou as digitais e das mãos de outras 350. Para conduzir esta pesquisa, ele se passou como curandeiro para ganhar a confiança dos aristocratas tibetanos, receitando remédios para monges com doenças sexualmente transmissíveis.

Schäfer manteve notas meticulosas sobre os costumes religiosos e culturais dos tibetanos, de seus vários festivais budistas coloridos e das atitudes do povo em relação ao casamento, estupro, menstruação, nascimento, homossexualidade e masturbação. Em seu relato da homossexualidade, ele descreve detalhes da relação dos velhos lamas com meninos e como esse tipo de relação tinha importância na política local. Ele também descreve cuidadosamente a variedade de posições sexuais do povo himalaio.

Schäfer apresentou os resultados de sua expedição em 25 de julho de 1939 no Clube Himalaio de Calcutá. De lá, a expedição pegou um avião da British Airways para Bagdá, onde fizeram uma escala para Atenas via um Lufthansa JU 52. Em Atenas, um avião fretado pelo governo alemão os conduziu até sua casa.

Eles retornaram à Alemanha com uma edição completa do texto sagrado tibetano Kagyur (108 volumes), exemplos de Mandala, outros textos antigos e um documento supostamente detalhando a raça ariana. Estes documentos foram guardados nos arquivos da Ahnenerbe.

Assim, a coleção mais detalhada de objetos tibetanos etnológicos, agora no Museu Bávaro de Etnologia em Munique, vieram dos materiais da expedição de Schäfer. Pelo fato dos livros de Sch6afer sobre esta expedição jamais terem sido traduzidos para o inglês, a opinião pública ocidental foi informada pelas fontes disponíveis na Biblioteca Oficial da Índia em Londres e por Hugh Richardson, que estava a cargo da Missão Britânica em Lhasa na época da expedição. Isto acabou contribuindo com o legado duvidoso no mundo ocidental, enquanto que na Alemanha ele está quase esquecido. Somente na literatura popular científica e histórias de ocultismo a expedição é citada repetidamente, estabelecendo as conexões entre o Terceiro Reich e o Tibete, ou as relações ocultistas entre Hitler e o Tibete. A maioria das publicações mais recentes também cai nesta categoria, refletindo os preconceitos ideológicos e o sensacionalismo.

Uma descrição detalhada da expedição, inclusive com fotos, pode ser visto aqui:


Fotos da Expedição
 
 

 
Ernst Schäfer
 
 
 
 
 
 
 
Fortaleza de Yumbulagang
 
 
Estátua Budista Antiga encontrada por expedição nazista foi criada por meteorito de mil anos

Associated Press, 28/09/2012

 
Berlim – Uma estátua budista antiga que uma expedição nazista trouxe do Tibete um pouco antes da Segunda Guerra Mundial foi criada a partir de um meteorito que se chocou com a Terra milhares de anos atrás.

O que parece ser um roteiro de filme de Indiana Jones realmente aconteceu, de acordo com pesquisadores europeus que publicaram um artigo no jornal de Ciência Planetária e Meteorítica este mês.

Elmar Buchner, da Universidade de Stuttgart, disse na quinta-feira que a estátua foi trazida à Alemanha pela expedição Schäfer. A aventura financiada pelos nazistas foi até o Tibete em 1938 para encontrar as origens da raça ariana – um dos fundamentos da ideologia racista nazista.

A existência da estátua de 10,6 kg, conhecida como “homem de ferro”, foi somente revelada em 2007, quando seu proprietário morreu e ela foi para leilão, Buchner disse à Associated Press.
 
 

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom esse artigo. Nada se fala poraí da expedição alemã ao Tibet.
Abs!

Unknown disse...

Anônimo disse...
Muito bom esse artigo. Nada se fala poraí da expedição alemã ao Tibet.
Abs!

9 de julho de 2013 17:59

ÓBVIO QUE NÃO FALAM..A WIKI RESUME ESSA EXPEDIÇÃO A MISTICISMO POR QUE OS DERIVADOS DA JUDEIA E MAÇONS SEMPRE QUEREM IMPOR SEU COCÔ AO RESTO, MAS O GROSSO DA EXPEDIÇÃO ERA CIENTIFICA FORMADA POR BOTANICOS, ANTROPOLOGOS CULTURAIS, ANTROPOMETRICISTAS E CIA..ALEM DO MAIS AQUELAS FOTOS DE NAZIS DAS SS SENTADOS AO LADO DE RAÇAS "IMPURAS" SERIA UM CHOQUE AOS ALIENADOS PELOS CARTEIS KOSHERS QUE DIZIAM QUE OS NAZIS ODIAVAM TUDO O QUE NÃO ERA ARYA SETENTRIONAL E PORTANTO QUERIAM EXTERMINAR TODOS..SÓ NÃO SE SABE COMO O FUHRER SE ALIOU AO SUL-EUROPEU MUSSOLINI OU AO LESTE-EURASIANO HIROÍTO..MAS PRONTO, SE O CARTEL DIZ E O GADO DELES ACEITA SEM SEQUER PERCEBER A NÃO-CONCORDANCIA DE TAIS FACTOS..

Anônimo disse...

CONCORDO... REALMENTE HÁ MUITO A DESVENDAR SOBRE O ASSUNTO...