sábado, 4 de janeiro de 2014

[POL] Os discursos de Churchill foram superestimados e alguns “se deram mal”

Jasper Copping

The Telegraph, 20/08/2013

 
Eles são pensados como tendo unido a nação durante sua hora mais sombria, e ajudado a plantar as sementes da vitória final sobre os nazistas. Mas o impacto dos discursos de guerra de Winston Churchill tem sido superestimado e eles foram pobremente recebidos por muitos, um estudioso afirma.

O professor Richard Toye conduziu uma pesquisa sobre o impacto dos discursos do então Primeiro Ministro analisando as respostas para eles a partir daquele momento.

Em suas descobertas, ele desafiou a visão aceita de que os discursos foram recebidos entusiasticamente e se tornaram uma influência decisiva no desejo da nação em lutar contra Hitler.

Ao invés disso, ele afirma, os trabalhos geraram mais controvérsia e críticas de que os historiadores pensavam previamente.

O professor Toye, da Universidade de Exeter, descobriu que muitos ouvintes pensaram mesmo que Churchill estava bêbado durante o seu discurso da “Hora mais nobre”, um de seus mais conhecidos, proferido em 18 de junho de 1940, na época da queda da França.

A pesquisa, apresentada em um novo livro, O Rugido do Leão, cobriu as dezenas de discursos dados por Churchill durante a guerra. Alguns foram transmitidos por rádio, enquanto outros foram impressos em jornais.

O professor Toye avaliou as reações aos discursos estudando diários coletados pelo grupo de pesquisa social Observação Popular, que objetivava registrar a vida diária pedindo aos voluntários para registrar suas opiniões e experiências, assim como daquelas pessoas próximas a eles.

Ele também analisou os relatórios “Inteligência Doméstica” do Ministério da Informação, que monitorava aspectos do moral público, incluindo reações ao modo como os políticos apresentavam o progresso da guerra.

O professor Toye disse que os discursos de Churchill tornaram-se a partir de então parte de um mito nacional idolatrado, e que isto tem escondido o fato de que eles frequentemente causaram desapontamento e críticas.

O estudioso descobriu que uma pesquisa conduzida logo após o primeiro discurso transmitido por Churchill como Primeiro Ministro, “Sejam Homens de Valor”, em 19 de maio de 1940, foi considerado inspirador por metade dos entrevistados e depressivo pela outra metade.

“Tem sido muito uma parte da estória nacional pelas pessoas olhar para isso proximamente,” ele disse. “As pessoas têm tirado conclusões erradas sobre o impacto dos discursos, sem muita evidência. Um grande número se sentiu inspirado pelos seus discursos, mas uma parcela ainda maior da população teve uma reação diferente. Esta estória de quase unanimidade nas reações aos seus discursos é incorreta. As pessoas acham que todo mundo ficou inspirado e estava pronto para pegar em armas e sair lutando contra os alemães. De fato, havia mais críticos do que podemos suspeitar.”

Ele acrescenta: “Muitas pessoas acharam que ele estava bêbado durante seu famoso discurso transmitido ‘A Hora mais nobre’ e há pouca evidência de que os discursos fizeram uma diferença decisiva ao desejo do público britânico em lutar. Os discursos não eram tão motivadores. Alguns se deram muito mal.”

Parte da razão disto, afirma o professor Toye, foi devido ao fato de que Churchill estava dando uma avaliação honesta da guerra e da duração dela, do que a população havia sido informada anteriormente e que isto era uma mensagem dura para se dar.

Entretanto, o historiador também argumenta que havia uma parcela significativa da população que era crítica da liderança de Churchill. Apesar das pesquisas de opinião da época mostrarem um grande apoio para o Primeiro Ministro, o professor Toye argumenta que os diários da Observação Popular, em particular, dão uma reflexão mais verdadeira das atitudes.

“Havia uma pressão coletiva nas pesquisas de opinião, para dar o que pensamos ser uma resposta socialmente aceitável,” ele acrescenta.

O professor Toye disse que a resposta ambígua aos discursos de Churchill ajudam a explicar sua derrota na Eleição Geral de 1945.

“Existe essa suposição que todo mundo achava que ele era um brilhante líder de guerra, mas ninguém o queria na paz. De fato, havia mais críticas de sua liderança na época da guerra do que pensamos hoje.”

Uma das respostas mais intensas a um discurso encontrado nos arquivos foi escrito por um jornalista que se juntou ao Exército e registrou os comentários de seu amigo George, 24 anos, da região sul de Londres. Enquanto George escutava o discurso de Churchill sobre a queda de Singapura em fevereiro de 1942, ele disse: “Que desgraçado. Vamos logo com isso. Que merda de encobrimento. Qualquer pessoa normal vê que ele está jogando areia em nossos olhos.”

Apesar de Churchill ter escrito seus próprios discursos, ele frequentemente recebia conselhos dos departamentos governamentais que algumas vezes o levavam a abaixar o tom ou fazer ajustes.

O professor Toye disse que o discurso “Devemos lutar contra eles nas praias” de junho de 1940 foi influenciado por William Philip Simms, o editor estrangeiro pró-britânico da cadeia de jornais americanos Scripps-Howard. Havia uma preocupação de que os EUA não entrassem na guerra, de modo que Simms deu algumas sugestões na linguagem necessária para maximizar as simpatias dos americanos pelos britânicos.

A pesquisa do professor Toye descobriu que para estabelecer a crença de que os Aliados não poderiam mais ser punidos, Simms argumentou que o Primeiro Ministro deveria dizer algo como: “Pretendemos lutar esta guerra em direção de um fim e de uma vitória, por mais tempo que tome. Aconteça o que acontecer, a Grã-Bretanha não cederá. Nós, aqui, sabemos muito bem dos tempos difíceis que estão por vir. Temos tomado a medida de nosso inimigo. Sabendo de tudo isso, estamos dentro e estamos para ficar. A proposta é simples: é se o estilo de vida que conhecemos na Escandinávia, Países Baixos, Grã-Bretanha e nas Américas deve sobreviver ou se a maior parte do progresso feito pela humanidade desde a Idade das Trevas deve ser varrida do mapa. De sua parte, a Grã-Bretanha pretende lutar até o poder do mal da Alemanha seja derrotado. Desistir – jamais.” Simms sabia que Churchill usaria sua própria fraseologia.

O professor Toye disse que em termos de estrutura, as semelhanças entre esta passagem e a do discurso de Churchill – com a repetição de “Nós devemos” – era gritante. O discurso “Lutar contra eles nas praias” foi dado na Casa dos Comuns, disse o professor Toye.

“Ele nunca foi transmitido via rádio, apesar de ter sido relatado na BBC por um anunciador e citado na imprensa. Entretanto, as pessoas afirmam lembrar de ter ouvido este discurso famoso de junho de 1940, mesmo que eles não tenham ouvido. Ele foi gravado para a posteridade junto com outros de seus discursos de guerra nove anos depois.”        



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Um comentário:

Anônimo disse...

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http://www.mqmagazine.co.uk/issue-3/p-06.php